14h55m
“Vamos, então, ao
gabinete da Srª. Juíza.”
E lá subiram,
o Tó Zé, com a Tia, o Cabo Fernandes, pois o moço tinha que ser guardado à vista e o Advogado, todos guiados pela Srª. Oficial de justiça.
A tia queda-se á porta e entram os restantes.
O
Tó Zé a fazer 20 anos,
do alto do seu 1,95m e 110 quilos de peso, com a bonomia e abstracção própria de um oligofrénico,
queda-se, exactamente, em frente à Srª. Juíza, moça nova, meio enfezada e
com ares de frete.
E começa então
a Sra. Juíza o seu interrogatório, para decidir a Interdição do rapaz, que tinha uma incapacidade abosluta, da ordem dos 90% dada pelo Serviço Nacional de Saúde:
- “
Como se chama? Hum? Como se chama? Não sabe o seu nome.
Então como se chama.”
Nada! Silêncio e um olhar de plena abstracção e total distância.
- “
Quem são seus Pais? Sabe quem são? Sabe o nome de sua Mãe? E do seu Pai? Sabe? Olhe, compreende o que lhe digo?”
Rigorosamente nada. O Tó Zé mantém-se totalmente alheio a tudo e todos.
Era como se lá não estivesse.
Somente um pouco de baba lhe saía pelo canto direito da boca.
E o interrogatório
continua:
- “
Sabe que dia é hoje? Sabe em que mês estamos? Sabe as horas?”
…
- “
Olhe e sabe o que é o dinheiro? Sabe para que serve. Sabe o que é o dinheiro?”
- “
Tem Irmãos, família?”
Mantendo a sua pose
o Tó Zé, dá, então, um pequeno passo em frente, pega num Código Civil Anotado do Abílio Neto, que estava pousado na secretária da Juíza e
numa fracção de segundos atira com o livro em direcção à Magistrada.
Como seu 1,58m e 90 quilos de peso,
o Cabo Fernandes esboça uma reacção,
refreada porém, e de imediato,
pela sua proeminente barriga.
O Advogado tenta, em vão, agarrar a mão do rapaz.
A Juíza petrificada, e por instinto,
inclina levemente a cabeça para a sua esquerda.
Sonora e violentamente o dito livro, edição de 1996,
autentica arma de arremeço com 1.591 páginas,
vai estatelar se na parede atrás da Magistrada, após passar rasante ao seu cabelo, que levanta com o ar que desloca.
Silêncio sepulcral.
Com a mesma calma e candura,
o Tó Zé dá um passo atrás e retoma a sua posição original, de abstracção de tudo e todos.
Só a baba estava, agora, mais abundante e a sair por ambos os cantos da boca.
Em estado de choque, e lividez cadavérica, a Juíza diz “po… po… pode… podem levar o Arguido… A interdição está decretada... A tia será sua tutora…”
E o
Tó Zé, baboso e inocente, volta para os braços da sua tia que o esperava lá fora.
Então, pergunta ela, portaste-te bem meu menino?