quarta-feira, fevereiro 08, 2006

A Interdição

14h55m

“Vamos, então, ao gabinete da Srª. Juíza.”

E lá subiram, o Tó Zé, com a Tia, o Cabo Fernandes, pois o moço tinha que ser guardado à vista e o Advogado, todos guiados pela Srª. Oficial de justiça.
A tia queda-se á porta e entram os restantes.
O Tó Zé a fazer 20 anos, do alto do seu 1,95m e 110 quilos de peso, com a bonomia e abstracção própria de um oligofrénico, queda-se, exactamente, em frente à Srª. Juíza, moça nova, meio enfezada e com ares de frete.

E começa então a Sra. Juíza o seu interrogatório, para decidir a Interdição do rapaz, que tinha uma incapacidade abosluta, da ordem dos 90% dada pelo Serviço Nacional de Saúde:

- “Como se chama? Hum? Como se chama? Não sabe o seu nome.
Então como se chama.”

Nada! Silêncio e um olhar de plena abstracção e total distância.

- “Quem são seus Pais? Sabe quem são? Sabe o nome de sua Mãe? E do seu Pai? Sabe? Olhe, compreende o que lhe digo?”

Rigorosamente nada. O Tó Zé mantém-se totalmente alheio a tudo e todos.
Era como se lá não estivesse. Somente um pouco de baba lhe saía pelo canto direito da boca.

E o interrogatório continua:

- “Sabe que dia é hoje? Sabe em que mês estamos? Sabe as horas?”

- “Olhe e sabe o que é o dinheiro? Sabe para que serve. Sabe o que é o dinheiro?”

- “Tem Irmãos, família?”

Mantendo a sua pose o Tó Zé, dá, então, um pequeno passo em frente, pega num Código Civil Anotado do Abílio Neto, que estava pousado na secretária da Juíza e numa fracção de segundos atira com o livro em direcção à Magistrada.

Como seu 1,58m e 90 quilos de peso, o Cabo Fernandes esboça uma reacção, refreada porém, e de imediato, pela sua proeminente barriga.
O Advogado tenta, em vão, agarrar a mão do rapaz.
A Juíza petrificada, e por instinto, inclina levemente a cabeça para a sua esquerda.

Sonora e violentamente o dito livro, edição de 1996, autentica arma de arremeço com 1.591 páginas, vai estatelar se na parede atrás da Magistrada, após passar rasante ao seu cabelo, que levanta com o ar que desloca.

Silêncio sepulcral.

Com a mesma calma e candura, o Tó Zé dá um passo atrás e retoma a sua posição original, de abstracção de tudo e todos. Só a baba estava, agora, mais abundante e a sair por ambos os cantos da boca.

Em estado de choque, e lividez cadavérica, a Juíza diz “po… po… pode… podem levar o Arguido… A interdição está decretada... A tia será sua tutora…”

E o Tó Zé, baboso e inocente, volta para os braços da sua tia que o esperava lá fora.

Então, pergunta ela, portaste-te bem meu menino?

3 Comments:

At 8:40 da tarde, Blogger susana said...

Aqui quem era mais incapaz era a juíza!!

 
At 2:37 da tarde, Blogger isabel said...

Já me fartei de rir!!!!!!!!1

 
At 10:01 da tarde, Blogger Cucagaio said...

Caro Galo, será que ele ganhava uma bola extra, desculpa, um livro extra se acertasse no alvo?

 

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