sexta-feira, janeiro 26, 2007

Dar voz ao pai

Ontem à noite enquanto assistia a um programa noticioso, fui confrontado, mais uma vez, com a questão do referendo ao aborto. Nos dias que correm parece ser uma questão incontornável.
Curiosamente ou talvez não, dá-se sempre mais ênfase aos partidários do SIM, do que aos do NÃO, quase que apetece ir votar e dizer não, só para chatear, mas adiante, não é isso que hoje me traz aqui.
Enquanto assistia a essas notícias fui perturbado por uma questão que ainda não vi ninguém colocar, e por conseguinte, também ainda não vi ninguém responder. A questão é tão simples quanto isto, E O QUE O HOMEM QUER? A VONTADE DO HOMEM É IRRELEVANTE EM TODO ESTE PROCESSO?
A questão do aborto não é tão simples como os defensores do SIM ou do NÃO parecem querer transmitir à opinião pública, se pensarmos bem, e às vezes dá para isso, compreendemos que a questão é bastante mais complicada com ramificações a vários níveis.
A lei penal portuguesa já consagra a possibilidade de haver aborto até às 12 e 24 semanas, na maior parte dos casos por razões médicas, seja do feto/criança, seja da mulher. Consagra igualmente a possibilidade de aborto, quando a concepção tenha resultado de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual (16 semanas), ou seja, praticas sexuais não consentidas, no caso pela mulher.
Portanto, o referendo à possibilidade de existir aborto até às 10 semanas, só faz sentido quando estamos a discutir a fecundação/concepção ocorrida durante a prática de relações sexuais entre dois adultos irresponsáveis (nunca ouviram falar em contraceptivos), que de livre e espontânea vontade decidiram praticar o acto, para seu deleite. A dor de cabeça só vem depois.
Ora é aqui que surge a minha questão.
1º Hipótese
Ele não quer a criança, ela não quer a criança, felizes da vida, faz-se o aborto, problema resolvido.
2ª Hipótese
Ele quer a criança, ela quer a criança
, felizes da vida, nasce uma nova família, problema resolvido.
3ª Hipótese
Ele não quer a criança, mas ela quer a criança
, ele força a situação e ela aborta contra a sua vontade, há aqui no mínimo um crime de coacção, e bem trabalhado, eventualmente, um crime de homicídio, problema resolvido.
4ª Hipótese
Ele quer a criança, mas ela não quer a criança,
ele não é suficientemente capaz para a convencer, e ela acaba por abortar.
Quais os direitos do pai? Qual a relevância na decisão a tomar? Deve ser considerada a sua opinião?
É certo que é a mulher que traz no ventre a criança. É à sua custa que a criança se desenvolve. Uma eventual intervenção cirúrgica, como o aborto, é realizada no corpo da mulher.
Mas o feto/criança não é um exclusivo da mulher para dispor dele como lhe apetecer. São precisos dois para a concepção/fecundação, um ele, e uma ela. Perante a lei, os progenitores (ele e ela) são responsáveis pelo sustento, desenvolvimento, educação, etc até aos 18 anos.
Porque carga de água só a mulher tem opinião se deve ou não abortar? É que não podemos esquecer a 5ª Hipótese.
5ª Hipótese
Ele não quer a criança, mas ela quer
, ele não é suficiente capaz para a convencer a abortar, mas também não é suficientemente canalha para a forçar a fazer o aborto, logo, a criança há-de vir ao mundo.
Nesta situação, mais uma vez a opinião dele não é tida nem achada. Mas mal a criança nasce, a mãe pode requer alimentos ao pai para o sustento da criança. Resultado, ele não quis a criança, mas porque a mãe quis, ele vai ser obrigado durante os próximos 18 anos a sustentar um filho não desejado.
Estamos pois numa situação, quer na hipótese 4ª, quer na hipótese 5ª, em que, ele participa na concepção/fecundação, não é tido nem achado durante 9 meses, mas sofre as consequências depois. Mas afinal, quem é que determina que durante a gestação da criança (9 meses) esta é pertença exclusiva da mãe, só esta pode tomar decisões sobre o seu futuro?
Não pretendo fazer campanha pelo SIM, nem campanha pelo NÃO, muito honestamente, ainda nem sei se vou votar. Mas gosto de fazer perguntas. E gosto sobretudo de obter respostas. Por isso voltamos à pergunta inicial, e fico aguardar as vossas respostas:
E O QUE O HOMEM QUER? A VONTADE DO HOMEM É IRRELEVANTE EM TODO ESTE PROCESSO?

7 Comments:

At 11:19 da tarde, Blogger mixtu said...

não é irrelevante, não deve ser irrelevante...
não voto...

abraços

 
At 1:28 da manhã, Blogger zé lérias (?) said...

Não é irrelevante.

Porém não te esqueças de que a decisão final cabe sempre à mulher. Coagida ou não pelo parceiro.

O corpo onde habita o feto é exclusivamente dela. Ninguém é de ninguém!

No caso dela ter o filho e o pai não o aceitar, a mulher terá direito a Pensão de Alimentos, a bem ou a mal.

Neste momento, no caso dela interromper a gravidez contra a vontade do parceiro, o homem tem o direito de denunciar a mulher em tribunal, expondo-a a prisão e/ou vexame público.

Bem, deve-me estar a passar ao lado muitas coisas sobre assunto tão complexo. Não é fácil e não penses que a grande maioria dos que advogam o sim têm coração menos sensível que o teu.

Curiosamente eu tenho, no fundo, uma grande dúvida em que votar.
No Não não voto certamente, porque:

Não faz sentido que à luz de qualquer confissão religiosa se queira incriminar duas vezes uma pessoa pelo mesmo acto:
- Ao ganhar o Não a mulher fica exposta à justiça dos homens (vexame e eventual prisão);
- Depois, quando morrer, volta a ser condenada pelo mesmo acto, pela justiça divina.

É caso para dizer que essas pessoas
se foram justas (o que duvido) não foram, com certeza, piedosas...

Acho que o tema nos empolga e muitas vezes não ajuda a raciocinar muito bem.
Acredita que tomei nota das tuas conjecturas que não são nada tolas.

Um abraço e bom fim de semana.

 
At 12:34 da tarde, Blogger peace_love said...

A tua questão é pertinente e tens uma certa razão, mas o corpo é sempre da mulher e no fim é sempre ela que decide se aborta ou não!

 
At 2:52 da tarde, Blogger Ana M. said...

No meio de tantas dúvidas, há os que seguem a estratégia de dizerem que não vão votar, nem vale a pena, QUANDO ESTÃO PERANTE PESSOAS QUE SABEM PENSAR DE MANEIRA OPOSTA.
Não sei se me fiz compreender.
"Há muita maneira de levar a água ao seu moínho"...

 
At 9:21 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Entrei neste blog quase por acaso e realmente fiquei espantada por ver uma referência ao HOMEM... Sim...!, porque a mulher carrega o filho, o corpo é dela... mas de certo que não fez o filho sozinha!!! Não tenho vergonha nem medo em dizer que VOTO SIM, Sim pela VIDA! Parece estranho, mas não é!! Por uma vida digna, com direito a ser desejado e amado, com condições idóneas para nascer e ter uma vida MINIMAMENTE aceitavel! VOTO SIM porque ter um filho não se limita a um desejo leviano e a um acidente de percurso, não deve sequer chegar ao limiar da discussão sobre a eventualidade de ter ou nao ter! Um filho é indiscutivel e não deve começar por ser um possivel aborto! A decisão deve pautar se pelo futuro da criança, até porque muitas vezes esta acaba por nascer com o estigma de nao ter sido desejado! Sim ao aborto!

 
At 11:58 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Um bom Domingo!

Abraço!

 
At 5:38 da tarde, Blogger Galo Rouco said...

Mais do que um comentário a este excelente texto, vou fazer um post.

 

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